terça-feira, 29 de novembro de 2011

Entrevista com Demetrios Galvão - sobre o livro Insólito



Entrevista com Demetrios Galvão - sobre o livro Insólito
Feita por Isadora Carvalho


1) Isadora Carvalho - Para começarmos a nossa entrevista apresente o projeto do seu livro e seu projeto de carreira.

Demetrios Galvão - Insólito é meu terceiro livro de poemas, mas de certa forma o considero como o de estréia, pois esse tem um projeto gráfico que gosto muito e que envolve capa, diagramação, formato e fonte. Participei de todo o processo junto com o editor, que também foi o diagramador e além disso, é um poeta-amigo. O livro é composto por um conjunto de 33 poemas e ainda tem uma apresentação energética feita pelo poeta Rubervam Du Nascimento.

Enquanto poeta, penso em continuar escrevendo e desenvolvendo minha poética. Não escrevo como hobby ou passa tempo, a poesia é pra mim coisa séria, trabalho com a linguagem – exercício de produção de mundos através da linguagem. Tenho a literatura como campo de construção de outras perspectivas que o factual exclui.

2) IC - Qual foi sua maior motivação para construção do Livro? Qual a maior dificuldade que você enfrentou nesse sentido?

D – Qualquer pessoa que escreve pensa em publicar seus trabalhos e ter a satisfação dos poemas publicados e a perspectiva de que seu trabalho se insira em um debate literário, etc, etc. Publicar é uma coisa muito importante para quem escreve.

Insólito é um livro que já se chamou “bifurcações no diafragma do tempo” e ficou em terceiro lugar no segundo Concursos Literários do Piauí, promovido pela Fundação Cultural do Piauí - FUNDAC, no ano de 2005. O edital do concurso dizia que os três primeiros trabalhos de cada categoria (poesia, romance, crônica, conto, e etc) seriam publicados, só que isso nunca aconteceu, com nenhum autor de nenhuma das categorias do concurso. Ou seja, valorização da literatura pelo governo do Estado na gestão do PT foi terrível. Como essa publicação não aconteceu, terminei alterando os poemas desse volume original e acrescentando textos novos. Depois dessas modificações veio o percurso de tentar publicar novamente e aí o que pegou de fato foi o problema da grana, porque publicar livro é uma coisa muito cara. Passei os últimos dois anos juntando grana para materializar o projeto do livro, que sai agora pela editora Corsário.

3) IC - Quando surgiu a idéia de fazer o livro? Quanto tempo você passou preparando o livro? Quando a idéia começou a ser colocada em prática?

D – Os poemas de Insólito começaram a ser escritos em 2004 e teve uma primeira finalização em 2005, para o tal concurso da FUNDAC. Como não foi publicado, passei os últimos anos trabalhando em vários poemas e construindo outros projetos de livro, de certo que, no início de 2011 reformulei o livro e coloquei um ponto final. Então, a idéia de fazer o livro e realiza-lo já se processa desde 2005.

4) IC - O que o leitor de “Insólito” pode ter certeza que vai encontrar nesse livro?

D – Uma coisa é certa, o leitor vai encontrar uma poesia com carne e sangue no sentido que é uma poética humana, com sujeitos, com envolvimentos e subjetividades bem particulares. Outra coisa, é que o livro é carregado de uma poética fortemente imagética e nesse sentido, é uma poesia que carrega uma bagagem encorpada e algumas substâncias “Tarja Preta”. Tenho dito até, que o livro não é de poemas, mas sim um álbum de fotografias insólitas.

5) IC - Onde e como podemos adquirir o livro?

D – O lançamento será dia 02/12 a partir das 19h na livraria Entrelivros e posteriormente vou disponibiliza-lo para venda nas demais livrarias da cidade. Mas as pessoas vão poder encontrar o livro comigo, vou sempre ter um a mão.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

gosto de te ver de perto

boca a boca
lingua a lingua
olho a olho
a olho nu
... gosto de te ver de perto
meu corpo nu
teu corpo nu
meu corpo nu teu corpo nu
nu ao nu
mas, se assim não posso
resta-me, ainda, minha lente do amor
minha grande angular
por ela sou capaz de te enxergar
em todas D...imensões
em todos T...empos
em todas P...osições
gosto de te ver de perto
mas, se assim não posso
vou continuar te fotografando
assim, serei o unico cumplice
testemunha ocular das minhas objetivas
TU


Kilito Trindade
foto - Maurício Pokemon

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

CULTO

Não sei o que a turba insinua,
Só sei que o deserto está fundado
E nós o aceitamos de bom grado,
Dispostos a perpetuar na rua

A esterelidade nua e crua.
Ceifamos tudo que nos é sagrado
Quando nós entoamos nosso brado.
Agora nosso status é de lua:

É tudo virgem e no puro anseio
De afirmar a nossa liberdade
Partimos toda vida pelo meio

Não vemos marca de nossa pegada
Ou tudo nos é bom ou é maldade
Aramos para a vida malograda.


Thiago Alex (colaborador / Paulista-PE)

foto - Maurício Pokemon
Capta minha falta

O vazio do meu sobrenome
Esta fome
Sangue amarelo de esperança
Olha quem deu
Olha quem daria
O simples fato
O começo de uma alegria
Escolhi o fim
O acabado...
Aqui ficaria o sopro
E eu então poderia
Seguir acabada
Voz vazia do meu ego
Vazio ato, vazio calor
Meu tempo é sombra
Então fica quando eu for
Levemente for
Histericamente pôr teu nome no meu osso
Meu sustento de epiderme
O interior do meu problema
Desconheço mas teimo
É assim que permaneço indo
Vindo, caindo
Te achando e perdendo
Me dando e tendo
Sopra meu tormento
Sopra pra longe
Que hoje eu quero
Hoje eu invento

Renata Flávia (colaboradora)

domingo, 20 de novembro de 2011

o mar e o pano + foto de Jairo Moura, no jornal O Dia


jornal O Dia - caderno Metrópole
fotografia - jairo moura | texto - thiago e
20-11-11

sábado, 19 de novembro de 2011

Lançamento do Livro - Insólito

Lançamento do Livro Insólito
de Demetrios Galvão

dia 02/12 a partir das 19 horas
na livraria Entrelivros


# leia um trecho da apresentação do livro - Insólito,
escrita pelo poeta Rubervam Du Nascimento #


leio demetrios e falo com ele hoje como se estivesse a ouvir o amanhã ordenado em versos e vozes de poetas que o acompanham, quer seja na abertura dos roteiros do livro, no diálogo dos versos, quer na oficina de gritos, silêncios, prazeres oníricos, cantos revisitados dia após noite, não apenas uma vez a cada dois meses, na casa-quintal, entre ferro-velho transformado em arte pelas areias salgadas do tempo.

leio e escuto demetrios e convenço-me: nas entrelinhas da poesia é possível descortinar o fundo escuro onde o silêncio se manifesta após o clarão executar o seu ofício. bem dentro da gente, contra a parede do espelho que sempre aparece disperso, aos cacos. o que se lê e se ouve nas palavras de demetrios, é contra o desperdício da fala e da audição e de todos os outros instrumentos de carne e osso que possibilitam o encontro com outras sensações, muito além dos sentidos acostumados com os cárceres do nosso corpo:

“a janela late à beira dos teus olhos para uma população de coisas fantásticas:”

demetrios é para ser lido dentro e à margem do papel. ele sabe que somente a poesia completa as águas que escapam do céu em facas de brilho, ou colhem as cores do sol derramadas pelo chão. somente a poesia encontra caminhos onde julgamos intransitáveis, areia movediça, pedra de lodo, ponta de toco, horizonte de areias, lama de pântanos (dói a luz dos facões na pele dos papiros dos pântanos de nyamata!)

se o leitor quiser entrar nos campos de plantio da poesia, sugiro passar primeiro pelos pântanos que foram feridos pelos facões da noite, em algum lugar esquecido no mundo. se quiser invadir seus espaços de tempestades e silêncios, é preciso, sobretudo, sabedoria para descobrir o que fizeram com o sangue de nossa cor aos pés dos papiros, nas terras dos grandes lagos, onde está registrado o nosso começo.

a leitura de demetrios me leva à presença de um cara que viveu há muito tempo do outro lado do mundo de nome octave uzanne. ele me diz que os livros, como hoje se apresentam, em folhas de madeira, deixarão de existir. disse isto e mais disse:

“- eu vos repito meus amigos que considero aqui somente possibilidades incertas. quem poderia aqui, dentre os mais sutis entre nós, profetizar com sabedoria? os escritores deste tempo, já diria nosso querido balzac, são os manipuladores de um futuro escondido sob cortinas de chumbo.”

ora, ora, por que ao ler demetrios os meus dedos de repente abrem as páginas de octave uzanne? talvez porque esteja ao meu alcance na hora em que leio e escuto demetrios. talvez porque ao ler e ouvir demetrios acredito que livros como o insólito continuarão a valorizar suportes aparentemente desgastados como o papel.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Baixe o Cd Veículo q.s.p. (poesia + música)

BAIXE o cd Veículo q.s.p. - quantidade suficiente para
(Academia Onírica + Quarterão)


veículo q.s.p.


é uma fusão co-administração da poesia do grupo ACADEMIA ONÍRICA com a música da banda QUARTEIRÃO – indicado para o tratamento de qualquer efeito placebo, diz NÃO a toda prescrição manipuladora! – inibidor potente da flacidez do não-dito, do não-feito! – estudos adequados atestam sua eficácia pró-permanência de toda sorte de inspiração, sobretudo as inflamáveis – tais pesquisas também confirmam que a administração de VEÍCULO Q.S.P. concomitantemente com festa, diversão e fúria resultou em um considerável acúmulo de bem estar no paciente, ou melhor, no sujeito – embora estudos de interações com outras drogas não tenham sido realizados, tais combinações podem ser positivas: combatendo ânsia, angústia e medo – existem relatos de que POESIA TARJA PRETA é certeiramente indicada para exterminar, de modo sumário, algemas e o mais que com elas se pareçam – QUARTEIRÃO é adequado para catalisar o grito primata do homem solar, intermunicipal e provinciano, que se rebela contra as agruras da decrépita cidade frankstein – VEÍCULO Q.S.P. é bem tolerado – as reações adversas mais comumente observadas são reverberações no tempo – isto é, reações adversas, não – o espanto é poético, ou seja: foi, é e será uma QUANTIDADE SUFICIENTE PARA uma reação adverso +

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

AO - Revista nº 2


AO-Revista nº 2 ======== Ilustrações de Gabriel Arcanjo / Entrevista + poema de Cláudio Willer (SP) / Encontro + traduções de Augusto de Campos (SP) / Arnaldo Antunes (SP) / Movimento Literário Kuphaluxa (Moçambique) / Jomard M Brito (PE) / Estrela Ruiz Leminski (PR) / Solda (PR) / Nuno Gonçalves (CE) / Ayla Andrade (CE) / Eduardo Jorge (CE) / ksnirbaks (GO) / Academia Onírica / Coletivo Diagonal / Marleide Lins de Albuquerque / Paulo Machado / Airton Sampaio / Daniel Ferreira / Chakal Pedreira / Amaral /// 


diagramação === Polyanna Molina

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

“o vento mete metais dentro do soco...”

João Cabral de Melo Neto


O vento acorda o rosto sonâmbulo
O olho cego
A boca sem língua
O vento acende o músculo rijo
Mapeia a fenda rubra
Colore o dia cinza

O vento vaga voluptuoso visceral
Varrendo vozes vãs
Desejos distorcidos diásporas
O dia d’agora em diante


Luiz Valadares
foto - Maurício Pokemon

Ventos Alísios

Acordei com o olho-líquido e o pé-de-chumbo.
A cidade-toda-asfalto engoliu meus pensamentos
Caminhei pelo pulso, pé-ante-pé.
(o vento soprando frases e letras nos meus cabelos)

Minha pele era toda lágrima
E evaporei
Ainda cedo pela manhã.
Transmutei-me em fola de árvore para encostar no céu.


Katiusha de Moraes (Colaboradora / Fortaleza – CE)
Poema do livro Fabrica de Asas
http://fabricadeasas.blogspot.com/
foto - Maurício Pokemon

sábado, 5 de novembro de 2011

ouça...

ouça o poema Ideograma de Durvalino Couto
extraído do seu livro OS CAÇADORES DE PROSÓDIA.
Músicado por Mirton de Paula
e dispomibilizado na Revista Terezona.

artigo de alunos da UFPI sobre algumas letras minhas



O PÓS-MODERNISMO NAS LETRAS-POEMAS DE THIAGO E*

Carmen Maria do Carmo Sousa Costa**
Dayanne Lises da Silva Costa
Marineri Alves de Sousa
Nayra Roberta Pereira da Rocha
Rafael Gonçalves Freire

O objetivo deste artigo é analisar as letras-poemas do jovem poeta piauiense Thiago E e identificar nelas características de um autor pós-moderno. Para desenvolvê-lo, faz-se mister algumas considerações em torno do que vem a ser o Modernismo e o Pós-Modernismo, estabelecendo uma diferenciação entre ambos.
            Thiago Pereira e Silva, com nome artístico Thiago E, nasceu em Teresina-PI, em 14 de março de 1986. Cursou o ensino fundamental na Escola Santa Angélica, o médio no Colégio Sagra e de 2004 a 2008 fez o curso de Letras/Português da Universidade Federal do Piauí. Atualmente, Thiago E integra a Validuaté, uma das melhores bandas do cenário musical piauiense que conta com dois cds gravados, Pelos Pátios Partidos em Festa |2007| e Alegria Girar |2009|. No grupo, além de participações nos vocais e de tocar cavaquinho e pandeiro, o músico compõe, sendo, concomitantemente, professor de português em escolas da rede municipal de Teresina, revisor e elaborador de provas para concursos e participante da Academia Onírica, que conduz o movimento Poesia Tarja Preta, reunindo artistas vários em redor do fazer poético.
            O Modernismo resultou de um processo que durou, aproximadamente, cinquenta anos, com início ainda no fim do século XIX. Mas foi nas três primeiras décadas do XX que se deu o confronto entre o “novo” (revolução industrial, progresso científico e tecnológico, ascensão da burguesia urbana, etc.) e as formas culturais e ideológicas do passado (mentalidade medieval, aristocrata e religiosa), aparecendo, efetivamente, novas concepções de vida e de arte, com a racionalização da sociedade e da cultura. A arte, até então atrelada à Igreja e à aristocracia, libertou-se, assumiu formas mais independentes e passou a ser lugar de questionamentos e contestações. A “nova” arte que surgiu expandiu-se para diversos países além dos europeus, dentre eles o Brasil, e recebeu o nome de Arte Moderna.
            Essa “nova” arte trazia inovações que combatiam o passado, o tradicionalismo, o academicismo e renegavam a “arte pela arte” presente, por exemplo, no Parnasianismo. Na literatura, o Modernismo revela um caráter multifacetado através dos seus movimentos de vanguardas (futurismo, cubismo, expressionismo, dadaísmo e surrealismo), que apresentam uma anarquia literária baseada na liberdade de expressão, incorporação do cotidiano à temática, uso de linguagem coloquial, releituras de textos famosos por meio de paródias, intertextualidades e dialogismos, sem dizer da consciência nacional, da denúncia e, no caso do Brasil, de um regionalismo crítico.
            Embora existam muitas discussões sobre o advento do Pós-Modernismo, inclusive se o mundo está mesmo vivenciando a Pós-Modernidade como um novo estilo ou se ela consiste apenas numa segunda tendência do ciclo modernista, isso não impossibilita que sejam ressaltados alguns fatos que configuram transformações representativas na sociedade e na cultura ocidental. Segundo Domício Proença Filho 

Entres as manifestações que intensificam ao extremo traços modernistas, entendemos que se situam, por paradoxal que possa parecer, o Movimento da Poesia Concreta e Instauração-Práxis. A transição citada se evidencia no Tropicalismo e no Movimento do Poema-Processo: Os traços pós-modernos podem ser encontrados mais acentuadamente em alguns textos da poesia marginal e na prosa de determinados autores contemporâneos.
                       
            Dentre as características do Pós-Modernismo, as que mais se destacam são a intensificação do elemento lúdico na criação literária, a utilização deliberada da intertextualidade, o ecletismo estilístico, o exercício da metalinguagem, o fragmentarismo textual, a autoconsciência e auto-reflexão, a radicalização de posições anti-racionalistas e antiburguesas. Na literatura, enquanto o modernista valoriza a razão, o saber e a consciência nacional e apresenta uma poesia com tom de denúncia, o pós-modernista ri levianamente de tudo, sendo-lhe essencial apagar a diferença entre o real e o imaginário. No Modernismo, o aprofundamento do eu com o mundo e a literatura construtiva e politizada contrariam o ambiente pós-moderno, que não informa sobre o mundo, transformado em espetáculo. A liberdade de experimentação e a invenção provenientes do Modernismo diferenciam-se no Pós, pois há interesse de destruir a forma do romance (enredo, assunto e personagem) para dar lugar ao pastiche, à paródia e ao uso de formas gastas e de massa. Na verdade, configura-se como uma das principais marcas pós-modernistas a despreocupação com o momento social vivenciado, o que contrasta com o Modernismo, cujos autores romperam com a “arte pela arte” e refletiram a revolta com o panorama social da época.
            Constatam-se características pós-modernas nas letras-poemas do poeta Thiago E. Sua desvinculação das angústias sociais é, por exemplo, notória em letras como A Lenda do Peixe Francês e Superbonder. Nesta, é possível deparar-se com a anticosmovisão inerente ao homem pós-moderno, pois seu eu-lírico tem uma visão da realidade que, sem se vincular com as demais opiniões, cria a própria verdade. É importante explicitar que o Pós-Modernismo não rejeita só as cosmovisões opressoras e universais, mas também a possibilidade de se ter uma visão de mundo coerente, o que faz Thiago E quando diz:

Caos pós-moderno de uma civilização
E a gente grita supersupersuperbonder
E no mundo não há mais separação

            Em meio a isso, surge uma arte experimental, que se quer expressão e não informação social, de modo que o sujeito passa a participar da obra, ao invés de produzi-la como objeto. Essa criação baseada na experiência de cada um é facilmente encontrada na letra de Eu Só Quero Acabar com Você, em que o eu-lírico expressa a sua intimidade:

Traz uma cachaça pra vê se
Passa a escuridão – porra de vida!
Ah! Se ele já não me abraça
O peito ga-ga-gueja a raiva doida
                       
            Na letra de A Lenda do Peixe Francês, destaca-se o pastiche - obra de arte em que se imita o estilo ou modo de realização de outra - de A Lenda do Pégaso, de Jorge Mautner. Nesta, o escritor diz que

Era uma vez, vejam vocês, um passarinho feio
                                   Que não sabia o que era, nem de onde veio
                                   Então vivia, vivia a sonhar em ser o que não era

            Thiago E constrói o seu poema iniciando-o da mesma forma e desenvolvendo-o a partir da insatisfação com a própria existência, como ocorre nos seguintes versos:
                       
                                   Era uma vez um peixe francês
                                   Soturno e muito triste
                                   Se perguntava: será que existem maiores mágoas
                                   Que as minhas nestas águas?!
                       
            O texto pós-moderno é, assim, repleto de intertextualidade. Na letra de Plaina Maravalha, por exemplo, nos versos Todo anjo é terrível e Um cão faminto só tem fé na carne, Thiago E recorre a frases de Rainer Maria Rilke e Tchekhov. Essa letra foi escrita através de fragmentos: o autor partiu de uma frase de Tchekhov, de uma foto de Theda Bara (atriz norte-americana e sexy simbol dos anos 20) e de um comentário que o seu companheiro de banda, José Quaresma, fez sobre a plaina, uma ferramenta de carpintaria que tira lascas da madeira, e da maravalha, que é o nome dessas lascas que se soltam. Nota-se, ainda, o respeito à verdade moral de cada um, já que é papel do pós-moderno apagar a perspectiva de moralidade geral ou absoluta.
            Como se está vivenciando a Pós-Modernidade, qualquer definição dela será, neste momento, inconclusiva. Mesmo assim, como já foi dito, há transformações expressivas nesse processo de transição entre o Modernismo e o Pós-Modernismo e se as observam nas letras-poemas de Thiago E. Então, se dizer que ele é um poeta pós-moderno seria precipitado, é lícito afirmar também que, no presente, as letras-poemas de Thiago E apresentam marcas que possibilitam inseri-lo nesse estilo de época em vigor. 


_______________________________________
*Artigo produzido na disciplina Literatura Nacional: Autores Piauienses, ministrada, na UFPI, pelo prof. Airton Sampaio, no período 2011.2.
**Estudantes de Letras/Português na Universidade Federal do Piauí.
(1995, p. 52), na literatura brasileira podem-se perceber características que diferem do Modernismo após a década de 50:

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

lançados justapostos os sons da palavra silêncio

lançados justapostos os sons da palavra silêncio
entendo que poder ecoa de teu verbo silencioso
discurso recomposto que em seu fim reencontra o começo

entre silêncios justapostos verbo silencioso ecoa
e tua voz ressoa a sempre precisa palavra não dita
bendita e maldita como se ausente estivesse toda

quando lançado ressoa o silêncio de tua palavra
não entendo o poder então que teu verbo silencia


Adriano Lobão Aragão (colaborador) - poema do livro Yonde de Safo, 2007.

http://adrianolobao.blogspot.com/
dEsEnrEdoS - uma revista de cultura e literatura
www.desenredos.com.br
foto - Maurício Pokemon

O CONEGO

Amigo do fogo, escrutinador das estrelas, terno com os peixes, ácido (não se sabe porquê) com os répteis... Perito em ilusões, desafiador do invisível. Corteja o fogo, como já disse. Confidente dos mais sábios porque diz sempre Não. Inventor sublime de palavras e cortesias. Muitos dizem que desde Oscar Wilde, não se viu outro dandi mais virulento. Acalma rajadas de vento, dança pela chuva e amadurece frutos fora da estação. Vocacionado habilmente para a esquisitice, costumava ser visto por horas a fio junto ao tronco de velhas mangueiras, a sussurrar palavras inauditas. Quem já as ouviu, jura por todos os santos que se trata de poesia misturada com libelos, água e sal, areia e mármore, torre elevada, maré alta, lua nova... Ouvir suas palavras é abeberar-se no fundo violento de um mar em chamas, de um amar em chamas... Fala línguas diferentes em dialetos sem tradução, como da vez em que sendo instado a explicar a cheia do Rio Acaraú em plena estiagem ( há nove meses não chovia), falou durante duas horas seguidas e dizem que apenas os cães pararam para ouvi-lo porque compreenderam aquelas palavras abafadas (caninas, quem sabe?)... Ele sabe praticamente de tudo sobre a ignorância. Tendo inclusive escrito um livro de 2.500 páginas sobre o ato de ficar calado diante das perguntas mais tolas e murmurar diante das palavras mais sábias. Amigo da noite, companheiro das estrelas, todas as vezes em que foi preciso, nomeou, uma a uma, todas as estrelas, planetas, sóis, sistemas e buracos negros. Era um brilhante inventor de coisa alguma e tradutor de obscuridades relativas. Mas nada podia contra o TEMPO que sorrateiramente lhe arqueava a espinha e fazia de sua voz um fio tênue de brandura e ironia...


Francisco Dênis Melo (colaborador - Sobral - CE)