segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

uma tarde furta cor

Há incêndios circulares e um corpo imóvel.
Aldo Pellegrini


Uma tarde se fez no papel de embrulho com tinta nanquim.
Tomava café e derretia mágoas.
No guardanapo ficavam as noites ruins e alguns pêlos da barba.
Essa era a gorjeta do garçom...

Era o descaso...
Era...

Era Frida, Pagu e Basquiat que pesavam sobre os ombros
Era a insônia que levava para os filmes pornôs
Eram os pássaros da infância exigindo um pedaço do céu.

Era...
Era...

Era Elliott Smith atravessando a confusão das facas
Eram as chaves se despedindo, o beijo que ficou sobre a mesa, os sapatos órfãos.
Eram os gafanhotos que se soltaram da camisa, colorindo o muro,
o cartaz do próximo filme, a memória ainda não escrita.


Demetrios Galvão

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

o que faço sem poesia

Ao amigo poeta Demetrios Galvão e a Academia Onírica


I

O que faço sem poesia,
Quando em mim soa a fúria de um alarido
De um rio tempestuoso penetrando o mar...
O que faço sem poesia
Se a poesia como uma clava, abre minha cabeça com o sol de mil dias...
O que faço sem poesia
Já que não sei calar a voz para ouvir a queda das estrelas,
E de instante em instante minha voz cava a terra molhada
E um punhado de serpentes comovidas dança diante de mim...
Nada! Sem a poesia e sua carnadura...
Sem a poesia e sua esfoladura...
A poesia e sua sangria...
Porque o que compõe a escrita poética,
O que reverbera na escritura,
Acolhe o frio tangencial da tarde em que o sol
Abre trilhas nas nuvens gastas,
E muito além das barbatanas de peixes suicidas,
O que há em nós é um canto de sereia,
Um entorno de raízes e plantas,
Uma semeadura de maças,
Um campo de trigo
Um mormaço no milharal...
O que faço sem poesia
Quando a poesia corteja o meu nome
E se insinua com seus grandes seios
E sua vasta cabeleira.
Porque a poesia como a mulher amada,
Dorme entre os lençóis
(Rumoreja entre caracóis fendidos, peixes acrobatas, monstros marinhos...
Que sem poesia, nada há. Fica o princípio morto, a faina obliterada...)


II

Esquisito e urbanóide,
Fio o traço da cidade em mim...
Ela (com sua massa cinzenta e sua arquipoesia comprimida)
É espaço de mil constelações,
Escadarias e planisférios.
Porque sem poesia a cidade nunca (nuca) será desnudada.
Como um cigarro nos lábios,
Fica a cidade acesa em mim,
Que estou viciado em alturas, sustos e melancolias....
Que mastigo há trinta dias um pedaço sonolento de esperança...
Que não consigo ressuscitar ao terceiro dia...
Que não, que não, que não...
Esquisito e esquizóide,
Dobro esquinas, soletro calçadas e pedras, placas e sinais.
A poesia dorme a cidade e acorda a multidão
Com o cheiro do pão pela manhã e o amargo forte do
Tantas vezes violado encontro das borboletas
Em meio ao massacre de Dante...
A poesia é que me enche o juízo,
Arruma meus livros na estante,
Concerta o dia e brilha como um fundo abissal de um olhar
Que se arvora o direito de não vê tudo...
Com tudo que ando, meus pés afloram como pilhas
De caixas de espanto,
Em que apenas condeno minha próxima face...
Ah, sem poesia poderia me suicidar na próxima hora,
Me filiar à direita,
Esquecer Martin King,
Deixar de sonhar com Ana C. e seu navio ancorado no espaço...
Sem poesia como poderia
Me viciar em saudade,
Escrever cartas suicidas (Drummond),
Planar como o condor no estrelado espaço
Do teu coração,
Ó lonjura desconjuntada
Clareira lunar,
Manhã de sol levante...


III

O que há além da memória, a não ser um mar revolto que não acode socorro, que não se transforma em milagre?
Sem tempo a perder, buscava ansiosamente a ventania entre o corpo e o muro, e apenas o eco exemplar de um grito era base do teu nome...
Poderia terminar o dia imitando outros dias: sem explicação a dar o que nos restava, no entanto, era uma singela metamorfose – o vôo transformado em chão,
A alma arriscada no fio de arame,
A carne fraca entre a força incisiva dos dentes e a o músculo da dor agindo sobre o tempo apuradamente vivido...


IV

Tudo o que eu queria era um poema mastigado, ruminado, bem acabado entre a metáfora e a combustão da palavra...
Mas o que fazer na distancia a não ser sentir o outro longe... Foi assim entre nós,
Porque fui rio serpenteando em busca de teu mar – canal vivido como tonta embarcação...
Nada como um dia à frente do outro...
Tudo a perder a ganhar, porque entre todas as coisas o que me resta é coisa alguma...
Mas o gosto do teu nome é carne de fruta – limão maduro... Tua branca face em sol,
Abrindo em mim uma fuga rápida, passo de janela, cuidado em tocar com os dedos
A pele nada áspera de uma manhã entre açudes e labaredas...
Tudo perdido e tudo encontrado, por isso tenho dúvidas eternas sobre o que comer e o que cavar...
Sobre como correr e onde acordar...
Tenho outras preferências como nadar a seco no rudimentar chão de teu corpo alcantilado
Entre a chuva e o fogo – ó brasa límpida, caldeirão,amor-amasio, como o fio canino de nossas vidas tortas,
Vividas entre copos e legumes, sábados embriagados e solução apenas perenes para coisas tão sublimes...


Francisco Denis Melo (Colaborador, Sobral - CE)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

meias e cintas-ligas
clicar na imagem
.
texto-imagem - Durvalino Couto
o poeta do mar


para os argonautas de chico buarque
para glauco leandro e ítalo


sou filho do mar
é o mar que me rege
o mar e seus cabelos que tem raízes na lua

sou filho do mar
é o mar que me impede
suplico sair dessa ilha salgada, sagrada(?)
cercada de criaturas ferozes fogueiras
redes raios raios que parta
que ferozmente - ele - a terra - nessa luta
deixa meu sangue que corre e que não cai ou não-estaca
nessa pedra que carrega a terra
nessa pedreira
nessa luta
dessa terra
assustadora terra
terrível terra e de onde vem o terraço terra e o terreno

quero o mar quero ver o mar na sua total-maresia
sou filho dele
sou filho das sereias
dos argonautas
quero o mar

sou filho do mar
quero a escola de sagres
quero o barco dos fenícios
quero iansã e iemanjã, as minhas mães
quero o mar
os botes
as canoas

sou filho do mar
por esses olhos que seguem o meu sangue o meu mar
as minhas armaduras do mar que sou
que estou
e desesperadamente jangadas caravelas barcos

o barco o bardo o todo torto dançante dançar - imitação das marés
o mar
o mar
o vento
o mar
o mar

quero o mar e não quero trafegar tenro
está de estático
quero o movimento do mar
que é libertação

me perco no mar
nos açudes
nas cachoeiras

quero fugir para Titã - que lá encontraram o mar
o mar de saturno
o mar dos enamorados
do amor amar amaré do mar de marte
mar manso e revolto
mar

do mar
que não somos donos
que a lua cairá no pranto do mar
nos fins do tempo
no dia do amor entre Terra e Mundo
e Mar e Lua

enamorados

sou filho do mar e quero me salgar,
com seus cardumes
seus peixes estrelas-do-mar
gaivotas
o peixe-do-mar.
camurim - peixe - amar.


Mardônio França (Colaborador, Fortaleza -CE)
http://www.corsario.art.br/index.php
http://mitologiaspoeticas.blogspot.com/
http://www.youtube.com/revistacorsario

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

em breve estaremos divulgando
onde e como adquirir
o cd Veículo q.s.p.
.
quando disponível
custará R$ 10,00
por um frio


Talvez eu tenha ficado duro demais e por fora essa dureza é menor. Pode acreditar meu amor, essa dureza por fora é menor, tenho medo da crueza de minha real indiferença, tenho medo de todos os outros que desejem meu desespero. E esse medo é o que me faz companhia, mesmo quando estou confuso, ele é o mais perto que posso me aproximar do calor humano. Assim é real, não me desespero, quase nunca. Você sabe que quando choro é por impotência, e essa impotência que se pronuncia em meus atos é bem melhor representada pela violência depositada em coisas desprovidas de espírito e nervos.

Laís Romero

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

quantidade suficiente para poesia

coluna - Toda Palavra - por Adriano Lobão
Teresina 14/12/10


leia no versão on-line do Diário do Povo
http://www.diariodopovo-pi.com.br/Jornal/Default.aspx?c=3


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Se me arrisco
Acordo
E sou só vertigem

Antes que seja cedo
Antes que algo incida
Antes que a tarde...

Não existem apelos
Só o nexo da amante
Dentro do que ainda por vir

Se há risco
Ponha na ponta em riste
O que não é mais segredo


Valadares
clicar na imagem
.
texto-imagem = Zorbba Igreja
quero outra vida
pra curar essa ferida
quero outro dia
outro copo dessa mesma bebida.

Renata Flávia

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010


clicar na imagem
.
texto-imagem = Zorbba Igreja
Planos Futuros


Em meu trabalho monográfico,
quero mencionar quatro indivíduos de liverpool
a conduzir zeppelin de chumbo
sob escadas ao céu, igrejas elétricase cânticos célticos nada herméticos.

Quero ser seminarista do Blues,
discorrer sobre BB King persuasão
em guetos de New Orleans,
no glamour de Chicago,
negra melodia ao largo infinito via lacteano,
acordes tropicais e meridianos
e simples mensagem: inefável atemporal.

No futuro próximo,
quero voar pelos oceanos
buscando isolamento insular.
Serei eu
mas nunca só,
somente terei visão de corvo,
difusa, estranha mas global,
confusa, tamanha, animal.
As mentes fétidas serão alvo principal
e motivo de orgulho pós conversão
em ser sensível, em ver estrábico,
alfabetizador indo arábico em descruzada missão.


Renato Barros (colaborador)
http://palcomp3.com/ctblues/

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

ValeduArnaldo

Arnaldo Antunes ao vivo na casa dele


Sei não, mas o cenário do novo trabalho de Arnaldo Antunes, Ao Vivo Lá em Casa, lembra muito o visual explorado no encarte do primeiro CD da banda piauiense Valeduaté.


a banda Validoaté mostra a capa no peito

No encarte do CD Pelos Pátios Partidos em Festa, as camisetas coloridas estão penduradas nos varais, semelhante ao que foi feito no palco da casa do Arnaldo. Logo abaixo, o momento em que Thiago E., integrante do Valeduaté, presenteia Arnaldo com o CD da banda (percebe-se, no final do video, que Arnaldo elogia a capa). Na criação artística, influenciar e ser influenciado é absolutamente natural, mas ficaria feliz se encontrasse um "agradecimentozinho" ao pessoal do Valeduaté, ainda que em letras minusculamente discretas em algum canto perdido do encarte do Ao Vivo Lá em Casa.


Adriano Lobão Aragão (colaborador)

http://adrianolobao.blogspot.com/

http://www.desenredos.com.br/

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

!!ª Poesia Tarja Preta – Conclusão de Um Ciclo

2 de dezembro. Esta foi a data da última Poesia Tarja Preta de 2010. Foram 11 os encontros para se falar poesia, ouvir sons, assistir a documentários e curtir exposições. Através da Academia Onírica, juntamente com a preciosa colaboração de seus parceiros (Kátia Barbosa, Canteiro de Obras, Trimera, Estúdio Totte, Pontão de Cultura Preto Ghoz Vive, Ponto de Cultura nos trilhos do Teatro, Coletivo Diagonal, Quarterão) foi possível produzir em Teresina um espaço diferenciado de troca de sensibilidades. Essa foi uma proposta que começou a se desenhar a partir de janeiro, mas que já povoava as cabeças de alguns de nós a bem mais tempo.

Não sei se todos entenderam, mas o poeta “homenageado da noite” era sempre uma desculpa para que os encontros existissem, pois o que estava sendo valorizado eram os poetas presentes e a produção dos demais artistas envolvidos. Além do mais, as pessoas que freqüentaram o Canteiro de Obras em dias de atividades da AO puderam conhecer um pouco do trabalho de vários artistas da cidade, em uma teia que envolvia uma complexidade de linguagens e de produções de sentidos.

Posso dizer que os Oníricos fizeram o máximo que puderam para realizar e proporcionar boas noites de poesia. Desse modo, o primeiro ano se encerra com 11 noites e 11 edições do zine AO, o nº 4 da Trimera e o cd Veículo q.s.p. . Temos grande satisfação em apresentar esse percurso de produção, principalmente por confiar na qualidade do trabalho realizado em companhia da banda Quarterão, da Trimera e do Orbital Cultural Canteiro de Obras.

A 11ª Poesia tarja Preta foi onírica ao pé da letra -->>> uma bricolagem de palavras, sons, imagens..... O resultado da noite é conclusão de quem esteve presente. Agradecemos a todas as pessoas que estão envolvidas nesse projeto e a todas aquelas que se fizeram presentes e participaram dos nossos eventos.
.
.
Demetrios Galvão
.
.
Veículo q.s.p. - quantidade suficiente para

Fagão

Thiago E.

Valadares

Laís Romero

Demetrios Galvão

Kilito Trindade

Quarterão

público

Kilito Trindade + público

Fábio Fichel

Sheldon

Emanuelle Chaves


George

Thalita Ciana

Ana

Quarterão


# Todas as fotos por Kátia Barbosa #

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Por Kilito Trindade

UMA NOITE ONIRICA

Hoje eu acordei irradiando luz pelos poros, olhos, unhas e cabelos
A principio, em desespero, me pus ao pé da cruz em busca do inócuo apelo
Salve-me! Estou ficando louco?
Mas, que nada! Era a eletropoesitividade de uma noite onírica que me invadiu e multiplicou-se pelo soma impulsionando minhas células a movimentos randômicos tal qual carrinhos de bate-bate num parque de diversão. Uma overdose de poesia tarja preta na Quantidade Suficiente Para. Hoje eu acordei foi poesia, nu. Hoje eu acordei foi poesia no corpo e na mente; tremi, gelei e fiquei quente; gozei e gritei contente: Poesia! Poesia, ninguém vai te controlar. Vai poesia! Vai romper a barreira do tempo e transitar nos Orbitais Culturais, nos Canteiros de Obras. Vai! Vai girar e pirar a rosa-dos-ventos, as Arianes de ar, os Demetrios de pedra, os Fagões de ferro, os Kilitos de sol, as Laises de lua, os Thiagos de luz, os Valadares de seiva. Vai poesia! Vai escrever no firmamento que ninguém vai te controlar. Vai poesia...

Kilito Trindade

fim de ano - fim de feira

cd - Veículo q.s.p : quantidade suficiente para


zine Ao - nº 11


documentário - Sem Palavras

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010


clicar na imagem
.
texto-imagem - Zorbba Igreja
Não vou mais ficar preso
Não vou mais ficar preso por ela
e viver travado numa velha caveira
Não vou mais ficar preso por ela
e viver travado numa velha carreira
hum! ah!
Nutrindo-me do putrefe odor
da decomposição do amor
Ah! Mas, se ela estivesse aqui agora nesse momento
estaria vendo o meu eu entrando e saindo
por todos os cômodos do meu apartamento... cabeça
Fecho janelas!
Baixo cortina!
O cérebro aborta!
E a boca porta abeta grita
Sai! Insípido amor!
Sai! Sentimento incolor
Mas, se o teu cheiro insistir nesse processo de masturbação mental
Vou te ejacular assim: atchim!
Afasta-se verme obsessor
Parasita das sombras das neuroses do rancor
Liberte-se germe do amor
Ressuscita das catatumbas vulcânicas do meu amor
Vem em lavas e solidifica, fossiliza e eterniza o novo amor
que a boca porta aberta engoliu e gritou
Ah!!! Hum!!! Novo amor dentre de mi nha cabeça
Preciso arrumar meu apartamento


Kilito Trindade