ANOTAÇÕES PARA MINHA BIOGRAFIA
NO CENTENÁRIO DE ALFRED HITCHCOCK*
sempre amei as imagens
mas eu queria mesmo era ser um narrador
modo de assemelhar-me ao cineasta da vertigem
e foi assim que passei a sentir vontade de escrever
sobre o mistério do rosto daquela mulher
que segue ao encontro do aventureiro
que a cada dia tem que reiniciar
a dolorosa caminhada
rumo à torre, à esquina, à margem, ao centro
à fatal reconquista da felicidade a dois
quando tão pouco importa o abismo
pois a vida passa depressa demais
e só queríamos um momento, um único instante nosso
– e agora sou eu
aquele que mergulha
no frio oceano da paixão
– agora sou eu
aquele que caminha
cego e surdo
através do estrondo, da revelação, do clarão, da imensidão
para sempre prisioneiro dessa história
da vida como risco permanente de um passo em falso
e agora sou eu
para quem as fachadas de San Francisco se fecham em círculo
cuidado
olhe bem
o efêmero está aí
é preciso desvendar
desvencilhar-se
para saber
quem fui
o que sou
cuidado
a sair pela Editora Demônio Negro.
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