quarta-feira, 21 de setembro de 2011

os universos dos vôos da carroça

i
o clitóris da lua, cogumelo que se derrete sobre as jangadas,
aquela diáspora da libido, uiva nas gargantas das filhas do rio,
e medusa de folhas, flor do incesto, caule da árvore de vidro,
cálice de pedra, orgasmo de delírio,
a jangada de bronze singra a terra rachada,
e na clepsidra inconsciente,
os olhos da noiva
e esse alguém enterrado sob os meus pés.

ii
jaguares alados em vôos elípticos
à espera que a terra não-trema aos meus pés
emoldurados nas espirais genéticas
acrobacias de uma distância

iii
a convivência entre mortos e vivos na esteira da carroça é labiríntica
encruzilhada de signos e breves alusões
uma forte pincelada de amarelo
recobre a íris e as rugas da testa.
o menino e a menina pairam sobre o mato verde
na loucura do mundo em vôo de arribação
nas vestes dos mendigos ao caminho
na luz da cruz e da ilusão.
a virgem mãe que abençoa
a decolagem reluzente
ao som do pacto
entre a mão velha e o olho novo.

iv
o movimento da carroça pela via láctea
este inverno de luzes e de sombras
nas vinhas do silêncio
artifício para bem longe dos autômatos
que cria o criador em solitária alquimia
por entre o esplendor das terras-águas dos peixes e das parreiras
na miração dos peixes-folhas-de-uva.


Nuno Gonçalves (colaborador – Fortaleza-CE)
poema do livro "o sol e a maldição", Edição: Livres Escribas, 2004.
http://americalatindo.blogspot.com/

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