sábado, 10 de setembro de 2011

Eu e o Chico Buarque


O Chico Buarque sempre me vem aos domingos. Fico imaginando como ele passa os domingos. Será que está escrevendo. Será que está tomando uma boa dose de uísque com algum amigo, falando sobre arte. Ou será que a essa altura ele já não suporta falar de arte. Será que ele não faz nada aos domingos ou reserva esse dia para fazer alguma coisa especial.
Eu enfrento meu domingo ouvindo Chico e outros amigos de versos. Chamo-o de amigo e sou. Da parte dele eu não posso dizer nada, posto que ele não me conhece. Eu falo sempre com os versos dele. Levo meus amores com ele. Passos os dias bons e ruins. Porres de felicidade e amor, porres de tédio e fossa. Estando ele tanto comigo eu não poderia tratá-lo assim feito um desconhecido.
Gosto de ouvir música com minha mulher por perto. Ela vestida em poucos trajes belamente simples circulando pela casa. Quando falamos sobre música ela sempre diz “ah, pra ti, música é o Chico e o Caetano. Nem adianta discutir”. Mas e não é? Ele está cantando agora. É domingo. Eu sinto um gole de bebida na boca.
Escrevo alguma coisa e quando fecho os olhos me vejo dançado com minha mulher no meio da sala. Uma dança suave, mais sendo um carinho, um abraço e um embalo que exatamente uma dança. Estou abraçado com minha mulher, meu rosto no seu colo. Escorrego as mãos por suas costas, acariciando suavemente sua bunda. Subindo as mãos acariciando suas costas, pescoço, até sentir seus cabelos longos entre meus dedos. O cheiro dela, o som do Chico, a pele dela a poesia dele. Domingo, amor e música. Mas por enquanto é saudade.
O Chico me faz boa companhia quando minha mulher não está por perto. Quantas conquistas devem ao Chico. Quantas boas trepadas se embalaram com Chico. Quanto amor e quanta solidão. Será que o Chico pensa nessas coisas? Não sei. E quantas festas, quantas brigas em casa, quantas boemias, quantas mesas até ao amanhecer. Quantos fins de amor, quantas conquistas. Num outro domingo, ouvi o Chico cantar [ou dizer] “a dor da gente não sai no jornal”. Não sei o que dizer depois disso. Não quero gritar, não quero manchete. Fico quieto ou saio e bebo um pouco.
Esse domingo está tão sem graça. Não tem nem mesmo a falta de graça doutros domingos. Tenho trabalho que não posso deixar para segunda. O telefone não atende e não consigo falar com minha mulher. Não tem bebida na geladeira. Acho que esse texto está bem mixuruca. A única grandeza agora é a música do Chico. É assim, quando o domingo está bom tem Chico tocando, quando esta ruim também. Quando escrevo algo que preste é iluminura dele, quando o texto está uma merda eu me salvo com ele.
Se o texto agora não lhe parecer muito interessante, nem valer a pena, pare a leitura e vá ouvir um pouco de Chico. Paro de escrever por aqui e vou ouvi-lo. Curtir o domingo e lembrar meu amor. Cada um com o seu domingo. Eu cuido do meu, você do seu. O domingo do Chico Buarque nós não sabemos. Então, cada um com seu domingo. E até a segunda feira, que é um dia de todos.




João Henrique Vieira (colaborador)

2 comentários:

  1. Pude sentir a leveza do seu domingo, recheado de amor de sua mulher e do encantamento de Chico. Texto bonito, parabéns.

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  2. Agora sei por que o João não quer mais beber comigo! O safado tá de caso com o Chico, e sei também que ele tem saído com um tal de Pachelbel.

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