sábado, 25 de setembro de 2010

Documentário - Palavra (En)cantada

Palavra (En)cantada, documentário dirigido por Helena Solberg,
discute a relação entre música e poesia no Brasil


Em um país com uma forte cultura oral como o Brasil, a música popular pode ser a grande ponte para a poesia e a literatura. O interesse em promover o debate e a reflexão sobre esse tema foi o ponto departida do novo filme de Helena Solberg: o documentário Palavra (En)cantada. Dois anos depois de muita pesquisa e a filmagem de entrevistas em maio e junho de 2007, o longa chega aos cinemas em março de 2009.

O filme conta com a participação de Adriana Calcanhotto, Antônio Cícero, Arnaldo Antunes, BNegão, Chico Buarque, Ferréz, Jorge Mautner, José Celso Martinez Correa, José Miguel Wisnik, Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), Lenine, Luiz Tatit, Maria Bethânia, Martinho da Vila, Paulo César Pinheiro, Tom Zé e Zélia Duncan. A maioria das entrevistas foi feita em casa e alguns deles cantaram e tocaram canções especialmente para o documentário, fato que realça a atmosfera intimista do longa-metragem.

Depoimentos surpreendentes e belo repertório - O roteiro do Palavra (En)cantada tem sua narrativa construída na costura de depoimentos, performances musicais e bela trilha sonora. A abertura do filme é surpreendente, com Adriana Calcanhotto cantando, em franco-provençal, versos de Arnaut Daniel, poeta provençal do século XII, considerado um dos maiores da história, um artesão da integração entre palavra e som.

A partir da idéia sugerida por Lenine, de que os compositores brasileiros são descendentes diretos do trovador, o filme lança olhar sob diversos aspectos da formação cultural brasileira. Dos intérpretes que declamam poesia nos palcos aos cantadores nordestinos que improvisam diversos gêneros na viola, passando pelo Rap que, segundo o rapper Ferréz, “é uma mera continuação do cordel”, Palavra (En)cantada é uma reflexão sobre a tradição oral e a diversidade cultural brasileira, resultado do cruzamento entre as culturas erudita e popular.

´Criou-se no Brasil uma situação que não existe em nenhum outro país: uma canção popular fortíssima, que ganhou uma capacidade de falar e cantar para auditórios imensos, e levar para esses auditórios poesia de densa qualidade, com a leveza que a canção tem´, observa no filme o músico e professor de literatura da USP, José Miguel Wisnik.

Poetas-letristas, autores de livros que tornaram-se compositores, poetas que tentam usar a música para ganhar mais dinheiro, poetas do morro, tudo isso é assunto do Palavra (En)cantada. O filme é costurado por passagens instigantes, como a declarada rejeição de Chico Buarque ao título de poeta, e emocionantes, como as imagens captadas de Hilda Hilst pouco antes da sua morte, reclamando que os poetas não são valorizados no Brasil e contando que, para ganhar mais dinheiro, pediu para Zeca Baleiro musicar seus poemas.

“Entrevistar pessoas muito assediadas e que já foram entrevistadas inúmeras vezes é um desafio. Abri o jogo com o Chico (Buarque). Ele riu muito e disse: ´Então pergunta alguma coisa que nunca me perguntaram´. Este foi o meu fio condutor. Queria que os entrevistados sentissem que eu estava ouvindo pela primeira vez o que estavam me contando”, diz Helena Solberg.

Filme é rico em imagens raras – Palavra (En)cantada apresentará imagens inéditas no Brasil, como a encenação de Morte e Vida Severina, de João Cabral de Mello Neto, no Festival de Teatro Universitário de Nancy, na França, em 1966. Merecem destaque também imagens raras, que foram restauradas pela produção do filme, de Dorival Caymmi, nos anos 40, cantando e tocando O Mar ao violão.

O documentário também resgata um depoimento histórico de Caetano Veloso no Festival da Record, em 1967, logo após cantar Alegria, Alegria. Nele, Caetano fala de sua inspiração ao compor a música e ressalta a liberdade no uso da guitarra na música brasileira: “No Rio de Janeiro, disseram “Caetano vai usar guitarra numa música, quando chegar na Bahia vai tomar uma surra de berimbau”. O que eles não sabiam é que os baianos estão além!”.

Ponto de partida – A idéia do projeto surgiu há mais de três anos. No começo de 2005, Marcio Debellian, autor do argumento do filme, apresentou um projeto à Bienal do Livro para realizar pocketshows de música e poesia durante o evento. O objetivo era mergulhar no universo particular de grandes compositores brasileiros, seus livros e autores preferidos, e como a relação de cada um com a poesia / literatura influenciava o seu processo criativo. O conceito do projeto era trazer música, leitura de poesia e bate-papo para espetáculos pequenos, de atmosfera intimista. Mas acabou crescendo e se transformando em um longa-metragem.

“O mergulho nesta pesquisa trouxe à tona assuntos que iam além do impulso criador de nossos artistas, e que falavam de aspectos significativos da formação cultural brasileira. Achei que o assunto merecia ser documentado”, diz Marcio. Ao final de 2005, Marcio Debellian e a Radiante Filmes, produtora de Helena Solberg e David Meyer, celebraram um acordo para a produção do filme. Um ano depois, haviam viabilizado os recursos para início das filmagens.
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Para ler o release completo - download clicando aqui (pdf 154kb).
Mais informações sobre o documentário é só acessar: http://www.palavraencantada.com.br/

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