domingo, 22 de agosto de 2010

O Diabo entre os Doutores


De longe Arthur Rimbaud tinha uma face endoidecida, talvez por culpa de seus longos cabelos ou mesmo de sua clarividência, já que, não tendo herdado, como sonhara, a fortuna do pai, atendia todos as tardes na porta da estação ferroviária: lia mãos, jogava búzios, além de fazer mapa astral... Nas horas vagas escrevia poemas, bebia absinto, freqüentava altas rodas, discutia filosofia, aritmética, física quântica... Era chamado carinhosamente pelos freqüentadores mais velhos de “o diabo entre os doutores”, talvez por isso mesmo exercesse clandestinamente a profissão de bufão e de cônego. Do bufão sabia-se pelo riso dissimulado e pela agilidade do corpo desconjuntado... Do cônego, segundo consta, sobressaia a habilidade de mutilar os salmos e recitar o cântico dos cânticos... Mas quem o via ou ouvia sua voz constatava que sua maior perdição foi ter dormido àquela noite de intempérie na casa vazia de Verlaine...


Francisco Denis Melo (colaborador, Sobral-CE)

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