segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Noite Manoel de Barros --- a descolonização do inútil

Tudo aquilo que a nossa
Civilização rejeita, pisa e mija em cima,
Serve para a poesia.

Manoel de Barros



Musgos, serrotes, ferrugem, sapos, bules abandonados, baganas de cigarro, cantigas de grilos... todos foram convocados nesta noite, pela toada de seu Manoel, um senhor de Barro que vive nos confins do mundo fantástico, “onde inventar é aumentar o mundo” e a inutilidade serve para a poesia. A noite foi iniciada com suas lorotas poéticas por via do documentário “só dez por cento é mentira” do diretor Pedro Cesar. Os presentes acomodaram seus sorrisos e surpresas pelos cantos do Canteiro de Obras, com os olhos cheios de imagens verbais.

Com o fim do documentário, nossa amiga Shara Jane fez uma belíssima performance, cheia de intimidades com seu Manoel e manejando com grande habilidade as suas invenções poéticas. Em seqüência a poesia de Barros tomou conta do Orbital com todos os ciscos, somados ao grafismo e figuras provocativas do artistas plástico Adler Murad. Juntos mostraram como “desver o mundo” e inventar existências.

A tertúlia anunciou que a noite seria de “escombros verbais” e Thiago, como um cara legal, feito Bernardo “o menino do mato”, apareceu vestido de palimpsesto, mostrando que o corpo soletra vários verbos. Arianne Pirajá em seu delírio de palco, confessou que conheceu seu Manoel em uma convenção de lesmas e saltou a desjanela rumo ao seu esconderijo. Nosso amigo Valadares plantou borboletas no horizonte rubro da luz e pintou com a boca grave “o retrato do artista quanto coisa”. Em seguida, um quase homem-de-lata, Kilinto Trindade, vagou com seu calhambeque gosmento pelo quintal das “grandezas do ínfimos” e leu poesias para seres desimportantes, como por exemplo, seu amigo-árvore Ocirino. Laís Romero retirou dos seus cabelos as profundidades do nada e cantigas de pedras – apresentou a todos “o abridor de amanhecer”. Fagão, o inventor de sons improváveis falou poesias de “ignorãnças” com garrafas-Brahma e molas de caminhão – fazendo “a poesia voar fora da asa”. Por fim, Demetrios Galvão ensaiou imagens “fotografando o silêncio”, utilizando despalavras para justificar as irresponsabilidades do poeta.

Eis que o improvável nos fez uma visita, e mostrou sua cara através de estardalhaços de vidro, gritos e serrote. Alguns se assustaram com a cara do caos, mas tudo não passou de uma leve brisa e a noite seguiu desconhecido a dentro, com as pessoas indo ao microfone para “apalpar as intimidades” do poeta. Pela primeira vez, nossa amiga fotógrafa, Kátia Barbosa se perverteu a poesia e empunhou seu Quintana pra conversar com seu de Barros.

Nessa noite seu Manoel nos ensinou “que o verbo tem que pegar delírio”.


Demetrios Galvão & Emanuelle Chaves



parafernálias da AO

Kilito Trindade

Kátia Barbosa

Público

Arianne Pirajá

Demetrios Galvão

...................

Fagão

Laís Romero

Thiago E

Shara Jane

Valadares

Kilito trindade + Ocirino

Fagão


# todas as fotos por Kátia Barbosa #

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