sexta-feira, 12 de março de 2010

a língua é um triste molusco.
já sem esperança, no escuro,
de reaver seu casco, ter futuro,
resigna-se com riso de chumbo.

como lhe resta ser mesmo língua,
linguagem, motor – sempre e ainda –
é, na boca, pá e palavra:
fala igual como quem cava.

cava com o corpo um liso assoalho:
chão de carnes gêmeas, molhado,
buscando, na cabeça, o antigo casco,
roupa e casa, escudo e agasalho.

a língua é um triste molusco.
já não sabe se é carne ou um soluço.
sem concha, se re-inventa no escuro.
sem cara, existe feito um espectro,
um susto, movimento, um obgesto.

Thiago E.

Um comentário: