terça-feira, 13 de julho de 2010

e quando retorna a si a oferenda

e o que saber de teu anseio entregue ao ventre e ao seio alheio
[quando retorna a si a oferenda que há pouco somente sêmen seria?

e que força haveria em teu sangue que não vê as marcas
[de teu semblante impressas em um outro ser?

e como artífice tenaz empenhas o obstinado ofício de reinventar-se
[em imagem e semelhança na fêmea que emprenhas

e eis novamente em teus braços os traços que em ti afirmam
[a perpétua condição de semeador

e como impetuoso autor revisando a própria obra chega até si o desejo e a hora
[de descartar o esboço que feito fora outrora

e eis que teu riso e tua mão se estendem a apenas um dos irmãos
[para que corra o risco e o destino de existir em vão

e que seja a mão que se ergue em fratricídio a mesma que jaz em suplício
[e ambas as duas palmas de tuas mesmas mãos

e o que saber de teu feito quando retorna a si a oferenda
[que reafirma em teu filho teu genitor?


Adriano Lobão Aragão (colaborador)
editor da revista Desenredos http://www.desenredos.com.br/index.html
e do blog Ágora da Taba http://adrianolobao.blogspot.com/

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